Entrevista - Rodrigo Oliveira
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O AMADOR E A CANOAGEM
O canoísta fala sobre os benefícios do esporte radical e faz crítica sobre a divulgação
da canoagem no Brasil
Líder de uma equipe de canoagem amadora (R&A Expedições), o paulistano Rodrigo Oliveira, de 27 anos, profissionalmente exerce o cargo de faturista em uma empresa de São Paulo (SP). Nesta entrevista, ele conta sua trajetória como amador no esporte radical, enfatizando os benefícios que se encontram para a saúde e o bem estar pessoal.
Com quatorze anos de idade, começou sua aventura pela cidade de Paranapiacaba, próxima a Santo André (SP), participando de trilhas e acampamentos sem monitoração. Conhece os esportes de rapel, tirolesa, cavernismo, arvorismo e canoagem, criando assim uma paixão declarada pelos esportes radicais. Sua atividade atual é a canoagem; sem objetivo de competitividade, ele e sua equipe remam em rios, riachos e até mesmo em mares, por divertimento, apreciação da natureza e ciente das vantagens que o esporte proporciona para a saúde.
O que é esporte radical na sua visão?
Costumo dizer que para classificarmos um esporte como radical é relativo, porque a definição de esporte radical seria: o esporte de alto risco que mescla adrenalina, medo, insegurança, vontade, curiosidade, stress, satisfação. Enfim, uma série de sensações, muitas indefinidas por palavras e expressadas por atitudes e gestos. Engraçado isso. É relativo por se tratar de atividades que mexem com o psicológico do ser humano, nos fazendo superar todos os tipos de adversidades.
Turismo e aventura é uma especificidade da canoagem que não se enquadra nos padrões de desporto de competição. Em sua visão,
Quais são os benefícios da prática sem a competição?
Bom, canoagem é um esporte muito antigo e descende dos nossos antepassados, hoje é um esporte olímpico e com muita tradição em países; existem várias competições que envolvem canoagem: as modalidades olímpicas, provas de velocidade, maratonas etc.
Pra mim só existe benefício na canoagem, afinal se trata de um esporte; principalmente quando praticado em ambientes naturais, podemos estar em lugares jamais habitado por pessoas, lugares preservados em meio a florestas tropicais, desde uma simples remada na natureza para curtir ar puro, como em expedições amadoras para transpor objetivos e metas pessoais. Enfim, é maravilhoso!
A canoagem é um dos esportes que faz a junção da aventura com a
contemplação da natureza. Você acha importante essa aproximação do homem com a natureza?
Extremamente importante, ainda mais nos dias de hoje; vivemos em um mundo onde poucos respeitam a natureza, poucos se importam com nossos rios e nossas matas. Costumo dizer que a pessoa que começa a remar adquire rapidamente um espírito de proteção ao meio ambiente, pois quem rema não suporta entrar em um rio poluído, ou em uma represa contaminada; quem rema não suporta encontrar em nossas águas, lixos flutuando ou nas margens, portanto, quem pratica um esporte em ambiente natural automaticamente está contribuindo com a preservação ambiental do nosso país.
O Brasil tem hoje, muitos profissionais da canoagem competitiva, representantes de gloriosas medalhas internacionais. Como canoísta amador, você acha que a divulgação do esporte ainda é reduzida?
Eu não diria reduzida, mas quase extinta, quando ouvimos ou assistimos que vai acontecer uma copa Brasil de canoagem? O meio de comunicação que mais divulga a canoagem hoje no Brasil é a internet, através de sites de confederações, mas muito pouco.
Hoje ligamos a televisão em qualquer canal que envolva esporte, eu posso contar nos dedos de uma mão as vezes que vi canoagem relacionada, eu como amador e apaixonado pela canoagem, não consigo deixar de manifestar minha indignação por conta dos meios de comunicação, chega ser absurdo, mas a televisão transmite campeonatos de outras modalidades que nunca existiu no Brasil, nada contra outras modalidades esportivas. Mas é um absurdo ligar a TV e acompanhar uma partida de Curling entre Suécia e Canadá, ou jogos de Sinuca.
Minha indignação é pelo simples fato de existir pouca divulgação e incentivo para a canoagem, precisamos de mais visibilidade, nosso país é riquíssimo em rios, lagos, represas sem contar a nossa costa marítima, alguém já assistiu um jogo de caiaque pólo? Ou uma prova de slalom? Waviski? Vamos tentar organizar um evento de canoagem pra ver quem patrocina? Não existe interesse em patrocinar um esporte que poucos conhecem, aí eu me pergunto: Não dá audiência por que as pessoas não gostam? Ou não gostam por que não conhecem? Enfim, poderia ficar horas falando sobre o assunto.
Você chegou a praticar outros esportes radicais como Rapel, Arborismo, Cavernismo, Tirolesa etc. O que a Canoagem tem de diferente no sentido emocional? É a mesma adrenalina?
Eu diria que o sentimento é bem parecido, afinal é muito emocionante poder concluir bem uma descida de rapel, uma exploração em caverna etc., mas com relação às expedições de canoagem, para mim, são um pouco mais prazerosas, mas isso é particularidade mesmo, depende dos motivos de cada pessoa, classifico mais prazerosa pelo fato de absorver muito mais as maravilhas da natureza, não sei se pelo ritmo da remada, mas normalmente fazemos expedições longas, onde podemos apreciar a fauna e a flora dos rios, costumo dizer que um rio é sempre diferente porque você não sabe o que pode encontrar após a próxima curva, seja animal, corredeira, obstáculos até mesmo a beleza visual, conforme vamos contornando temos um novo cenário de rara beleza.
Os envolvidos na prática da canoagem empregam seus esforços em “passeios” de longa distância que trazem enormes benefícios ao sistema cardiopulmonar. E seu estado físico? Como é a preparação inicial e após as remadas?
Meu preparo físico considero bom, não só antes das expedições mas normalmente tento levar uma vida saudável, alguns esportes, academia mais para manter a forma e sair do sedentarismo, tudo isso acompanhado de uma boa e educada alimentação.
Mas confesso que as semanas que intercedem uma longa expedição, me preparo melhor, fazendo remadas mais curtas de adaptação, uma boa alimentação caprichando nas frutas, verduras e legumes, e também preparação psicológica para a longa jornada, o que eu considero um dos fatores mais importantes das longas expedições.
E nessas expedições consideradas longas, como você se alimenta e realiza suas necessidades físicas?
Nossa alimentação nas expedições depende muito de cada remador, eu por exemplo, procuro levar alimento pra mais um dia, alguns acham exagero, mas melhor sobrar do que faltar, normalmente calculamos o tempo de remada e fazemos a parada para alimentação, nem sempre precisamos estar com fome para nos alimentar, normalmente uma expedição que envolve 8 horas remando, fazemos três paradas de aproximadamente 30 minutos cada.
As "necessidades físicas" são realizadas junto com as paradas, na maioria das vezes a moda antiga, o mais popular "no mato", mas sempre que temos oportunidade de parar próximo a propriedades particulares, pedimos sua licença para o uso. Risos.
Você trabalha como faturista em uma empresa de comércio na cidade de São Paulo. Há alguma relação entre suas duas atividades?
A única coisa em comum é que gosto do que faço, mas a relação não existe. Além de encontrar a paz interior, a satisfação em estar em ambientes naturais praticando uma atividade maravilhosa, desfrutando de lugares lindos, hoje percebo que minhas remadas me ajudam muito com relação ao meu trabalho, antes das remadas trabalho feliz, animado, pensando e programando a próxima expedição e após a expedição trabalho feliz, recordando os bons momentos.
Você pensa em algum dia trabalhar apenas com esportes radicais ou especificamente com canoagem?
Olha, penso bastante em trabalhar com esportes, principalmente esportes de aventura, já com relação à canoagem acho um pouco mais difícil, devido à falta de recurso que existe para com a canoagem, falta divulgação do esporte; nós que estamos “curiando” por aí, sempre ficamos sabendo de algumas coisas que estão acontecendo, mas é muito difícil, hoje vejo que quem trabalha com canoagem, digo pessoas que preparam atletas, que coordenam projetos sociais, fazem pelo amor ao esporte por que com relação a ganhos pessoais acho que não compensa. Mas quem sabe as coisas não mudam? E com certeza seria a realização de um sonho, ou melhor, muitos sonhos.
Sua família apóia seus projetos e trabalhos?
Minha família sempre apoiou em meus projetos, acho que sem a base deles não teria realizado metade das aventuras que fiz; os considero responsáveis pela minha felicidade, não só me apóiam como me ajudam sempre, até mesmo quando preciso de pessoas para colaborar nas expedições, para coordenar logística ou mesmo no apoio por terra, só tenho que agradecer por tudo que fazem por mim.
O que é mais difícil dentro de uma expedição de canoagem ou em outro esporte radical?
Acho que o mais difícil em uma expedição, sendo de canoagem ou não, é encontrar os parceiros certos, pois sempre temos muitas opções de expedições, mas nem sempre é possível pra todos, seja por questão financeira, falta de tempo, falta de vontade de alguns, então, acho que o primordial para que exista uma expedição, é você ter a colaboração de mais pessoas no projeto, e que todas as pessoas envolvidas tenham uma sintonia e o prazer em participar, desde canoístas a pessoas que colaboram com o apoio terrestre a pessoas que muitas vezes apenas nos dão incentivo moral.
A sua aventura mais recente foi denominada como “A expedição dos sonhos”. Como foi esta expedição e qual o significado do título?
O significado do título deve-se a um projeto antigo. Dois anos atrás, Alexandre e eu na curiosidade de encontrar trajetos navegáveis pelos rios de São Paulo. Entre os trajetos que mapeamos encontramos um que demos o nome de Vale do Ribeira.“A Expedição dos Sonhos" seria por vários fatores: primeiro por se tratar de um rio muito valioso do nosso estado, por muitos anos ser a fonte de vida para os ribeirinhos (população de Ribeira), por ser uma região maravilhosa que é conhecida como PETAR (Parque Estadual Turístico Alto do Ribeira) e por ficamos intrigados pelo trecho navegável desse rio, que para nós seria uma loucura, mas ao mesmo tempo um sonho, desde então, ganhou o nome de "A Expedição dos Sonhos".
Desbravamos nos preparativos. Praticamente um mês e meio programando toda a logística da expedição, como pessoas envolvidas, captação de recursos através de parcerias, estratégias de resgate, programação de rotas alternativas, reuniões com os carros de apoio etc.
Confesso que tivemos surpresas, no primeiro dia nos deparamos com um rio mais agressivo do que nos depoimentos que tínhamos sobre o primeiro percurso: algumas corredeiras, águas turbulentas, rodamoinhos, galhos caídos, conseqüentemente alguns tombos, mas nada fora do normal, ainda bem!
Nosso primeiro dia foi o mais complicado, pois entramos na água com objetivo traçado de remar 82 km; saímos da cidade de Iporanga com destino a Eldorado, deu tudo certo, chegamos ao cair da noite, meta concluída, motivo de muita comemoração, e o cansaço falando alto, mas o maior trecho já foi conquistado, restavam aproximadamente 80km pra percorrer até a cidade de Registro, mas tínhamos dois dias para o feito, levamos uma vantagem que nos deu a liberdade de entrarmos na água por volta de 12:00 do segundo dia de expedição. Remamos mais uns 40 km até nossa próxima cidade, Sete barras, onde ficamos hospedados. E enfim o último dia, entramos 7h00 da manhã na água, na cidade de Sete Barras, mais uns 35 km até Registro. Lá fomos recebidos com uma grande festa e comemoração por parte das pessoas que nos ajudaram ao longo da expedição, muitas buzinas, gritos de incentivo, realmente emocionante, não poderia ter sido melhor, foi realmente "A Expedição dos Sonhos"
Você sente ou já sentiu medo em alguma dessas aventuras?
Se eu falar que não é mentira, e não são poucos. Quando estamos remando, posso garantir que os medos são mínimos com relação à navegação, sentimos medo se avistamos uma corredeira um pouco mais forte, quando um dos caiaques vira, sabemos possíveis riscos, sempre fazemos com a máxima precaução e nos atentamos aos equipamentos individuais de segurança, mas como se trata da natureza, tudo pode acontecer.
Preocupamo-nos mais quando precisamos acampar nas margens de um rio, onde não há civilização próxima, normalmente locais com grande circulação de barcos motorizados ficamos com certo receio devido a tanta violência; nos preocupamos muito com a equipe de apoio, muitos pensamentos de como será que estão? Será que estão nos acompanhando? Coisas que fazem parte.
João Pontaltti e Danilo Cardoso
Introdução
Blog desenvolvido pelos alunos do 3º semestre de Comunicação Social/Jornalismo com intuito academico e exposição das atividades propostas pela professora Patricia, de linguagem comunicacional
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